26/06/2010 - 3º lugar - Concurso de Depoimentos 2010

Motivação na Enfermagem, por que escolhi esta profissão? - Jucileide Lucia Gomes da Rocha

Começo minha narrativa esclarecendo que no meu caso não fui eu quem escolheu a enfermagem, e sim ela que me escolheu.Fui criada pelos meus avós, sou nordestina e até os meus 19 anos vivi no Rio Grande do Norte.

Cresci vendo meu avô sofrer de um câncer de próstata e perambular de hospital em hospital tentando atendimento, quando conseguia muitas vezes era mal atendido. Via a angústia da minha vó que em seus 50 anos de casamento vivia em prol de amenizar a dor e o sofrimento do meu avô.Usando uma sonda uretral fixa ele muitas vezes por ficar impaciente deslocava a mesma do canal e era sofrido vê-lo na madrugada gemendo de dor e sem saber o que fazer.

Ao ser internado, muitas vezes eu como era a única neta que morava com eles, ia para o hospital que ele estivesse e tentava dar um pouco de conforto e fazer sua higiene. Não tinha técnica alguma, mas minha intuição mostrava que faria nele aquilo que gostaria que fizessem comigo, caso estivesse numa mesma situação.

Quando minha vó se ausentava de casa, era comigo que contava, então aos poucos eu estava assumindo e fazendo tudo pelo meu avô, desde cuidados higiênicos, mudança de decúbito e, um dia, até reanimação cardiorrespiratória.

Aos 16 anos fiz o curso de primeiros socorros. Na minha humilde concepção achava que “salvaria” meu avô daquele mal. Infelizmente a luta que travamos com ele culminou no seu falecimento...mas foi a partir daí que percebi que não faria outra coisa na vida que não fosse a de cuidar e promover o bem-estar de qualquer indivíduo que de mim necessitasse. 

Vim para o Sul aos 20 anos, tive filho cedo e assim que pude fiz o curso técnico de enfermagem. Não queria parar, sentia necessidade de aprofundar meus conhecimentos e em seguida prestei vestibular, tive a felicidade de ser agraciada por uma bolsa na faculdade IPA e graças ao meu esforço e a minha dedicação, hoje sou formada, faço pós em UTI e estou trilhando o caminho que Deus quer que eu trilhe para fazer de algum modo a diferença nesse mundo, muitas vezes insensível e desumano.

Penso que o ato do cuidado humano deve ser permeado pelo amor, a solidariedade e o respeito, e isso se manifesta na atitude que tomo diante do ser humano, por isso a forma do cuidar independe da relação que tenho com o ser que está necessitando dos meus cuidados.

Vejo que a simples ação do cuidar tem características marcantes que possibilitam que se harmonizem as relações humanas, trazendo equilíbrio junto ao meio em que atuamos.

Para mim a enfermagem tem por objetivo maior capacitar e aflorar a vocação dos que se sensibilizam de fato com o outro, nutrindo empatia e trazendo a conscientização de que estou ali porque escolhi, porém o paciente está aqui porque precisa.

Portanto, penso que é o toque, o amor ao próximo e a visão que tenho de olhar cada paciente como se fosse meu avô, ou um ente querido meu, que consigo personalizar o atendimento e de algum modo amenizo a dor dos que ali estão sob meus cuidados.