01/10/2018 - Projeto da UFPel promove abordagem inovadora em Saúde Mental

Iniciativa de grupo de enfermeiras(os) e psicólogas acompanha pessoas que escutam vozes

Na busca por mais humanização na área da Saúde Mental, pesquisadoras(es) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) estão desenvolvendo o Projeto Ouvidores de Vozes: Novas Abordagens em Saúde Mental. O intuito do trabalho é escutar pessoas que ouvem vozes e descobrir o modo como elas convivem com isso. Uma equipe de 13 pessoas, incluindo enfermeiras(os) e psicólogas, se reúne a cada 15 dias para conversar com os ouvidores num Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) de Pelotas.

A ideia de começar o projeto de extensão se concretizou após as disciplinas da pós-graduação, que abordavam esse tema, chegarem a ter 70 alunas(os). O interesse pelo assunto impulsionou o início do projeto.

A professora e enfermeira doutora Luciane Prado Kantorski, que faz parte da pesquisa, ressalta a importância de um grupo no qual essas pessoas possam falar. Segundo ela, quem ouve vozes não tem liberdade para conversar sobre isso. Quando experimentam falar, seja em casa ou no trabalho, geralmente a primeira medida a ser tomada é a indicação de medicamentos ou o aumento da dosagem do remédio que o paciente já usa, para que haja o “controle” das vozes.

Para Luciane, a experiência de ouvir vozes está ligada a alguma experiência, podendo ser um trauma ou uma lembrança. Por isso a importância dos grupos e da pesquisa, já que ela tem como princípio “identificar a característica das vozes, investigar estratégias utilizadas para conviver com as vozes e descrever a experiência dos ouvidores de vozes”.

Além de identificar a experiência dos ouvidores de vozes, a professora Luciane conta que, nos grupos, a pessoa é encorajada a ter autonomia sobre a voz, de forma a controlá-la, para conseguir trabalhar e ter vida social, sem que a voz a atrapalhe.

No Brasil existem 14 grupos de ouvidores de vozes, todos com a intenção de adquirir conhecimento sobre as vozes e como melhorar a qualidade de vida dos ouvidores. A compreensão do conteúdo das vozes, se elas são positivas, negativas, de pessoas vivas ou mortas, ajuda no desenvolvimento de melhores abordagens para o assunto. No mundo, mais de 30 países seguem essa linha de pesquisa.

Desconstruindo preconceitos
Para o futuro, a proposta é criar programas de rádio que tratem dessa temática, com o objetivo de desconstruir preconceitos sobre quem ouve vozes e tornar esse debate mais fácil para os próprios ouvidores de vozes. Outro plano é o de fazer grupos fora do projeto, para que isso seja trabalhado de forma mais abrangente com a sociedade.

No mês de setembro, o Journal of Nursing and Health publicou artigos que tratam dos Ouvidores de Vozes, em português. Essas publicações são importantes para aumentar a discussão desse tema no Brasil, ocasionando num maior entendimento dos casos brasileiros, que, segundo Luciane, diferem dos tratados na Europa. A publicação traz, dentre os muitos artigos, sete depoimentos de ouvidores de vozes. Clique aqui para conferir.

Fonte: Assessoria de Comunicação Coren-RS 
Texto: acadêmico de Jornalismo Douglas Glier Schütz
Supervisão: jornalista Joanna Ferraz DRT/RS 12.176