22/08/2019 - ARTIGO: A imensidão da Enfermagem, por Martha de Souza, professora universitária



ARTIGO: A imensidão da Enfermagem
Verdade que faltam políticas que favoreçam aos enfermeiros empregos e salários dignos

Por Martha de Souza, professora universitária
Publicado no dia 16/08/2019 no jornal Diário de Santa Maria

Temos escutado muitos absurdos ultimamente, inclusive dicas “incríveis” sobre a relação do meio ambiente com o funcionamento do nosso intestino. Mas, por favor, respeitem a Enfermagem. Trata-se da segunda categoria com maior número de profissionais no Brasil, chegando a 1,6 milhão, segundo pesquisa da Fiocruz e do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen). 

Não digam, por exemplo, que somos os “anjos de branco”, flutuando pelos corredores dos hospitais. Somos seres humanos, cuidando de outros seres humanos. Sentimos dores, cansaços, alegrias e prazeres como qualquer outro profissional. Estudamos muito, não apenas durante os cinco anos de faculdade. Seguimos em frente nos cursos lato sensu, stricto sensu, residências, doutorados e pós doc. Verdade que faltam políticas que favoreçam aos enfermeiros empregos e salários dignos. Vários vivem na corda bamba com dois ou três empregos, entre noites sem dormir seguindo-se aos dias para cuidar da sua saúde. No entanto, como esperar leis protetivas para a Enfermagem se somos uma profissão majoritariamente feminina e continuamos ouvindo, inclusive de alguns políticos, que devemos ganhar menos porque engravidamos? Exatamente por isso também temos jornada duplicada de trabalho, pois ao chegarmos em casa temos todas as atribuições domésticas que ainda não são divididas na maior parte dos lares.

Sou enfermeira há 35 anos, tendo atuado em diferentes espaços que envolvem a saúde da população. Durante todo esse período, nunca parei de estudar. Procurei sempre dar o meu melhor. Atualmente, sou professora do curso de graduação de Enfermagem e percebo os acadêmicos extremamente dedicados, não faltando uma aula sequer e buscando apreender tudo que vivenciam nessa trajetória. Durante a graduação experenciam atividades teórico-práticas, estágios, projetos de ensino, pesquisa e extensão interdisciplinares com os demais cursos da área da saúde. O currículo da graduação de Enfermagem é integrado e fundamentado em referenciais voltados à formação de competências, na perspectiva dos padrões de qualidade e cidadania. Desde a sua formação, busca-se um(a) enfermeiro(a) que seja capaz de lidar com a complexidade do ser humano e do meio em que vive, a fim de viabilizar tecnologias de cuidado em saúde que possibilitem a construção de uma consciência crítica e reflexiva a respeito do contexto que eles próprios estão inseridos.

Não atuamos apenas em hospitais ou Unidades Básicas de Saúde. Trabalhamos em grandes empresas, policlínicas e centros especializados, escolas, assistência domiciliar, instituições de longa permanência, administração e gerenciamento de equipes de saúde em diferentes espaços, cargos políticos, associações, órgãos e conselhos de classe, vigilância em saúde, consultoria, auditoria e assessorias privadas e públicas, estruturas consultivas e deliberativas do sistema de saúde com vistas a emissão de pareceres jurídicos, técnicos sobre metodologias, produtos e processos de Enfermagem, centros de pesquisa científica, clínica e tecnológica, docência, executamos ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde do trabalhador, participamos da formação de recursos humanos na área de saúde, entre outros.

Inclusive, ao prestar nosso cuidado, respeitamos a Constituição Federal de 1988, a qual salienta que “saúde é um direito de todos e dever do Estado”. Não olhamos cor, sexo, condição social ou qualquer outra situação das pessoas que precisam da Enfermagem. Mais atenção para não falar bobagens. Já seria uma delicadeza com quem é imenso(a) em sua atuação.