25/01/2023 - Entre profissionais de Enfermagem, negras(os) e mulheres foram as(os) que mais morreram de Covid19



Estudo divulgado pela revista Ciência e Saúde Coletiva, da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), mostra que 59,5% das(os) enfermeiras(os) e 69,1% das(os) técnicas(os) e auxiliares de Enfermagem que morreram de Covid19 durante a pandemia eram mulheres. Além disso, um recorte de raça mostra que, no primeiro grupo, 51% das(os) profissionais eram pretas(os) e pardas(os) enquanto 31% eram brancas(os). Entre auxiliares e técnicas(os), 47,6% eram pretas(os) e pardas(os) e 29,6% eram brancas(os).

Intitulado “Óbitos de médicos e da equipe de Enfermagem por Covid19 no Brasil: uma abordagem sociológica”, o levantamento foi publicado este mês pela revista, que desde 1996 veicula discussões científicas, resultados de estudos e outras produções do tipo. A pesquisa foi feita com base em dados do Conselho Federal de Medicina (CFM), do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) e de estudo sobre o inventário de óbitos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), considerando mortes por covid ocorridas entre março de 2020 e março de 2021. O contingente investigado incluiu 622 médicas(os), 200 enfermeiras(os) e 470 auxiliares e técnicas(os) de Enfermagem. 

A coordenadora da pesquisa, Maria Helena Machado, da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz, afirma que há subnotificação dos casos no país. “E isso é bem acentuado, marcadamente deliberada de não se ter claramente por parte dos órgãos públicos a divulgação de dados de adoecimento e óbitos dos profissionais de saúde de modo geral”, expõe. Médicas(os) e trabalhadoras(es) da Enfermagem são predominantes no conjunto de profissionais do Sistema Único de Saúde (SUS), motivo pelo qual respondem por 72,5% do total da força de trabalho na rede pública. São, ao todo, mais de 2,9 milhões de pessoas envolvidas nas atividades dessas duas áreas. 

Desigualdade - O pesquisador Neyson Pinheiro Freire, que atuou no levantamento pelo Cofen, afirma que a predominância de negras(os) e pardas(os) reflete o grande número de profissionais com essas características atuando na profissão. Entre auxiliares e técnicas(os) de Enfermagem, por exemplo, pretas(os) e pardas(os) juntos respondem por 57,4% das(os) trabalhadoras(es), segundo dados colhidos em 2013 pela pesquisa “Perfil da Enfermagem no Brasil”, feita pela Fiocruz em parceria com o Cofen. Como a maioria dessas(es) profissionais tem apenas segundo grau completo, o recorte acaba apontando também para questões de desigualdade social. “Esse profissional, de menor renda, está sujeito à desigualdade dentro e fora do trabalho, o que acaba se refletindo num índice de contaminação maior. Ele também teve menos acesso a Equipamentos de Proteção Individual, muito provavelmente, e é um profissional que esteve mais exposto em transporte público e de outras formas também”, destrincha Neyson.

Idade - Analisando o contingente de mortos a partir de um recorte etário, as(os) pesquisadoras(es) observaram que cerca de 80% das(os) profissionais de Enfermagem vitimados pela Covid19 tinham até 60 anos. Enquanto isso, 75% das(os) médicas(os) que perderam a vida pela doença tinham idade acima dessa marca. Maria Helena Machado destaca que essa diferença se dá por conta de descompasso entre algumas características das duas profissões. “Há uma diferença estrutural das equipes no que diz respeito à formação, à inserção no mercado de trabalho, à modalidade da inserção no mercado, à jornada e ao desenrolar da vida profissional deles ao longo da sua vida produtiva”, observa.

Gênero - Entre a categoria médica, os homens vitimados pela Covid19 representam 87,6% do total, contra 12,4% de mulheres. Os percentuais diferem da tendência observada no segmento da Enfermagem porque, segundo as(os) pesquisadoras(es), na medicina, as mulheres só passaram a ser maioria em 2009. Assim, as(os) profissionais mais velhas(os) – grupo de destaque no volume de óbitos – são especialmente homens. Já na Enfermagem, 85% dos profissionais são mulheres. 

Regiões - Por fim, chamou a atenção dos estudiosos o recorte local. Ao analisar os dados, a equipe concluiu que há discrepância considerável entre as diferentes regiões do Brasil, com destaque para a situação do Norte, que tem a menor quantidade de médicas(os) e profissionais de Enfermagem no país. Lá estão somente 4,5% das(os) médicas(os), 7,6% das(os) enfermeiras(os) e 8,7% das(os) técnicas(os) e auxiliares do Brasil. Mas os percentuais que tratam da perda de vidas são considerados salientes: respectivamente, 16,1%, 29,5% e 23,2% em relação ao total.

Fonte: Brasil de Fato e Fiocruz