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26/06/2010
1º lugar - Concurso de Depoimentos 2010
Motivação na Enfermagem, por que escolhi esta profissão? Rosalina Cappellaro Andreazza

O que me motiva a registrar as razões pelas quais me tornei enfermeira é que se trata de uma oportunidade única proporcionada pelo COREN-RS para que possamos compartilhar o porquê da escolha desta profissão/missão.

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Nasci numa pequena cidade do interior, de família pobre e com 11 irmãos. Num final de tarde, ao retornar da roça, onde acompanhava meus pais, pedi colo para minha mãe, alegando sentir muita dor na “minha perninha”. Na época, com apenas 5 anos, por certo minha mãe deduziu que eu deveria estar cansada das brincadeiras com bonecas de espigas de milho que eu insistia em colecionar.

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Na mesma noite, dormindo na mesma cama dos meus pais, estava projetada próxima do teto observando-os deitados e, em determinado momento minha mãe – pude observar – me envolvendo em seus braços, ela me deu um chá, passou unguento na minha perna que doía terrivelmente, momento em que meu pai disse, “a nenê está ardendo em febre, temos que procurar o doutor”. Pensei: quem seria esse doutor, afinal, nunca tinha ouvido tal palavra ...? 

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Passados alguns dias, meus pais me levaram para uma casa grande, com muitos corredores, escadas, folhagens e pessoas vestidas de branco, inclusive o “doutor”. O tal doutor me colocou em uma mesa, e com as suas mãos frias, apertou com força minha perna, e eu gritei muito, lembro bem. Ele solicitou à secretária uma bandeja, calçou luvas e em sua mão direita um bisturi abriu uma fenda na minha coxa para que o pus ali instalado pudesse escorrer até encher um ‘cubarim’ (recipiente de metal).

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A expressão facial desse médico apresentava-se com indiferença, potencializando a minha dor, enquanto o pus jorrava da minha perna, removido com forte pressão por outras mãos, além das do médico que, ao que eu podia perceber, sentiam náuseas e se revezavam. Nesse momento, meu pai já havia retornado para casa e minha mãe num canto chorava também a minha dor. Chegando a um pequeno quarto, entravam muitas pessoas, trazendo comida, limpavam minha perna e colocavam ‘panos limpos’ e, por fim, uma bandeja esmaltada branca e retangular, onde eram acomodadas algumas seringas de vidro com agulhas rombudas (sem ponta) e, um pequeno exército de pessoas, imobilizavam meu corpo franzino para aplicar a benzetacil (antibiótico).

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Passaram-se muitos dias naquele hospital até que um dia, uma freira com vestes brancas onde só podia ser visto o seu rosto cândido, me disse: “minha menina, eu vim te conhecer, me chamo Irmã Irene, me contaram que tu está com muita dor, tua mãe precisava voltar para casa para cuidar de teus irmãos e tu tens que ficar boa logo, por isso vou te dizer tudo o que está acontecendo contigo e o que eu vou fazer, disse ela. Preciso fazer essa injeção que vai doer como aquelas que tu já fez, mas não é preciso que ninguém te segure, tenho que limpar essa ferida que está muito feia e depois vou entregar para tua mãe uma lata de paninhos limpos (gazes) para que ela possa te cuidar em casa, vou explicar como fazer”.

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Deitei meu corpo confiante e a freira foi removendo aquelas secreções e aplicou-me no glúteo o antibiótico e, em seguida, me pegou no colo e disse, vou cuidar de você agora e me levou até a capela do hospital para rezar com ela e minha mãe. 

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Finalmente alguém havia me tratado como gente! Havia me dado carinho, havia me acolhido, havia me entendido que eu não era apenas “uma perna doente com osteomielite”. O carinho que tive da freira, foi sem dúvida o referencial inspirador que tive para querer ser uma enfermeira.

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Embora se fale muito em cuidado humanizado ao paciente nos cursos técnicos e universitários, sabemos que, infelizmente, na prática, por muitas vezes, isto fica em segundo plano. Os avanços da medicina e as novas tecnologias não podem jamais substituir o toque, o carinho e o afeto ao ser humano. A indiferença com o sofrer do outro, por uma parcela significativa dos profissionais trabalhadores da saúde, faz com que todos nós sejamos levados a pensar como gostaríamos de ser tratados, acredito que todos, no fundo, necessitam do cuidado humanizado de uma ‘Irmã Irene’ ao chegar num hospital. 

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Isto porque hoje sei como é ser uma enfermeira, porque já fui paciente, já estive do outro lado. Passei por mais de 20 cirurgias no MIE (perna esquerda) devido a uma terrível infecção, que na época (1965), não teve um diagnóstico adequado e nem prognóstico favorável. Numa destas intervenções cirúrgicas, ouvi de um dos médicos que estavam na sala, a terrível afirmação: “...que pena, uma menina tão bonita, temos que amputar a perna dela, chamem sua mãe!”

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Não foi necessário chamar minha mãe, pois eu já fazia um esforço gigantesco para debelar os sedativos que me mantinham inerte e finalmente acordei. Por certo não teria tempo hábil para a terrível amputação.

Concluo que a vida me preparou da forma mais sábia para exercer o cuidado de enfermagem.

Hoje, atuo como enfermeira coordenadora em atendimentos domiciliares, onde se encontram pacientes internados, na sua maioria crianças, que estão em ventilação mecânica. Esses pacientes me ensinam, no seu silêncio, na ausência de palavras, na incapacidade de se moverem, a importância de apenas estar presente e sentir.

Não tenho a pretensão de ter a verdade e sim, apenas mostrar uma das faces da verdade. Não é possível cuidar do outro, sem que seja possível colocar-se primeiramente como quem será cuidado. Aí será possível, aquecer as mãos, aquecer o coração e fazer o que for necessário sem deixar tantas marcas dolorosas, além das cicatrizes físicas.

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Ser enfermeiro é antes de tudo, cuidar da alma, enquanto cuidamos e limpamos as chagas do corpo. 

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Caxias do Sul, 27 de maio de 2010.

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